terça-feira, 8 de maio de 2012



Há um dia…
E chega o dia que terás de partir. Na consequência do que foi e do que será, terás de lutar contra o choro, contra a fraqueza humana, contra mil e uma coisas a saltarem-te pelo corpo inteiro, a corromper cada pedaço entranhado no teu ser. Como se se partisse a alma, como quem parte um vaso, deixado cair, assim. E quem foste, não voltarás a ser. Tudo muda, tudo parte. E, quando voltares, as palavras não serão as mesmas – não poderiam ser. Porque essas faziam parte do passado e não do futuro presente; porque as circunstancias marcam, deformam e criam novas formas e feitios, ventos e marés. Digo, somente, é a sensação de perder que me conforta a alma. Incrível, mas é. Como se fosse preciso sentir o barco esvaziar para o querer encher novamente. É preciso haver braços que abracem, mas igualmente preciso é haver olhos que, sobretudo, falem. E lagrimas para chorar quando assim for preciso… Corpos que amem, que corram, que lutem. Suor que saiba a vitória. E frio que chegue ao coração, que gele. Gele muito até que parta. E, caso não parta, que me dê razões para o desejar aquecer de novo. É preciso tudo isto e um pouco mais. 

EG




segunda-feira, 7 de maio de 2012

É como se quisesses escapar à tua própria sombra. Tu foges, fintas e paras a olhar para ela à espera que vá embora, mas é persistente e não te larga. Às vezes, toca-te no ombro… como se precisasses que te lembrasse da sua presença. Quando as nuvens afastam a luz e vês a sombra de nada, achas que ela desapareceu. A verdade é que continua lá, presa a ti. E na meia-luz pensas não ver o que sabes que não foi embora. Depois, quando volta o sol, finges aceitá-la e finges tão bem que começas a acreditar. Mas ela corre a perseguir-te. Acompanha o teu passo, ora acelerado, ora demorado, e brinca contigo quando giras em torno de ti próprio. É inatingível. E no momento em que decides tentar apanhá-la, cais e voltas a cair até que o cansaço te vença e te permitas ceder à cor da tua própria sombra.
VS

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Um atrás, outro na frente. Os dois, lado a lado, tensos e ligeiramente afastados. 360 graus e permaneço igual, intacta. Ponto fixo. Aproximam-se como duas crianças inocentes. Saltam juntos, juntos como raízes de árvore e terra húmida que o calor não deixa durar muito. Flectem e voltam a esticar. Trocam. Depois, um de cada vez. Cada um na sua vez – ora um, ora outro – para que não se atropelem na estranha estrada deserta. Levantam como dois pássaros e caem como duas folhas. Mas leve, como a dança do vento, leve. Assim caminham em bicos dos pés, a fim de não pisar caminhos errados. Tudo subtil e elegante. Depois, numa frágil corrida, encontram a extensão das mãos, que tanto amam. Mas depois o corpo tropeça e cai. Dá uma cambalhota e volta a esticar-se como uma agulha. Depois desce. Um para trás, afastando-se e o, outro, é preso pela exaustão do esforço. Enrola-se-me todo o corpo num desejo apertado, mas tão distante que volta a cair sem mais força para se pôr de pé.

EG

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Já  tentei ser quem não sou, como qualquer um já tentou; já conquistei e não gozei; já ganhei com todo e com nenhum esforço;  já senti a dor de perder, mas também conheço a forte sensação de ganhar; já me senti incapaz, mas também já tive toda a coragem do mundo; já caminhei muito sem cansar; já perdi a noção dos dias e das horas; já dormi ao relento e já sonhei acordada; já fui uma no meio de milhões e já aprendi que nada substitui a minha bela cama; já acampei em muitos sítios, mas não o suficiente para deixar de querer acampar; já chorei ao cantar uma música e até já dançei com desconhecidos; já conheci, também, pessoas incríveis, mas aprendi que nem todas passam a ser parte de nós; já me emocionei com o que, aparentemente, nada é; já escrevi para depois apagar, mas também já escrevi e guardei; já quis ser tudo e acabei por nada ser; já me surpreendi daquilo que julgava seguro e já me arrependi; já achei não gostar do que mais amo e até já perdi a confiança; já senti o prazer de chegar à meta e já subi ao palco, a tremer só de ver; já me encontrei noutra pessoa e já partilhei muito daquilo que sou, mesmo não o sabendo ao certo.

EG

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Se é raiva o que sinto? Não.
Quando procuramos demasiado por algo perfeito, acabamos por descobrir a imperfeição. E só depois percebemos que éramos felizes e nem sabíamos. A felicidade está nas pequenas coisas. São pequenas, mas não insignificantes, entendes? Para quê partir em busca de algo enorme, se falhamos quando deixamos as, aparentemente vulgares, mas tão importantes, pequenas coisas.
Se é raiva o que sinto? Não.
 O pior de uma história assim é não conseguir deixá-la. A dor tem cheiro. Sufoca. Ainda assim, o arrependimento não reside no meu pensamento que, ora está vazio, ora está repleto.
E tu perguntas se é raiva o que sinto. Não. É somente pena, tristeza. Não por mim, mas por ti. Por não veres o que está diante dos teus olhos, por não sentires o que te envolve, por não entenderes que a vida é feita de várias pequenas, aparentemente vulgares, mas tão importantes coisas. 
Tinhas razão: Há pessoas que merecem tudo de nós.
VS

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Já alguma vez tiveste de forçar, dia após dia, que estás radiante, quando por dentro estás imundo? Já alguma vez tiveste a verdade que nunca pudeste revelar? Já alguma vez sentiste o peso da dor do outro? Já alguma vez quiseste fugir desesperadamente e não poder? (...)  O dia vai chegar.
EG

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Só quando conseguires acreditar sem ver, abraçar de olhos fechados e viajar sem sair do lugar. Quando finalmente conseguires dizer tudo sem prenunciar uma única palavra e quando perceberes ainda mais com um único gesto. Quando deixares esses teus preconceitos e acreditares num mundo sem desigualdades. Se vires o dia lindo que está, e os teus olhos deslumbrarem o sol por entre o nevoeiro. Um dia, quando acreditares em segundas oportunidades, quando não desistires por á partida ser difícil, e fores á luta. Quando o teu corpo souber dançar sem música e perceberes que se pode cantar fora do tom.  
Quando esse dia chegar, serás com certeza mais feliz!
A.L